Quer seja um treino profissional ou aprender simplesmente as ordens básicas, o cão necessita de se envolver no processo, e querer aprender.
A motivação é a chave para aprender, embora existam grandes diferenças entre indivíduos. Em qualquer caso, há sempre algo que consegue atrair a atenção do cão. O importante é descobrir o que mais o motiva e utilizá-lo no momento apropriado.
Há cães que estão sempre "ativados" e necessitam de elevados graus de estimulação física e mental, enquanto que outros preferem ficar tranquilos e parece que nada os convence a mover-se... Mas cada um dele tem o seu "ponto fraco".
O equilíbrio: a chave do êxito
Para obter a resposta desejada por parte do cão, é necessário que ele esteja mais motivado para a ação que por outros estímulos ambientais.
Considerando a definição de motivação, podemos jogar com os dois parâmetros: impulso e objetivo.
Se o impulso é alto, podemos manter o objetivo baixo e vice-versa. Enquanto se ambos são altos podemos observar condutas que podem inibir a aprendizagem. Trabalhando com estes dois valores médios, vamos conseguir uma boa aprendizagem, mas para obter precisão, pelo menos um dos dois valores deverá subir depois.
Motivação e reforço na aprendizagem
Motivação e reforço representam as bases, respetivamente, de comportamentos não aprendidos e aprendidos.
A motivação define-se como o impulso de um animal para realizar uma ação. De facto, sem motivação, é impossível que se produza uma conduta natural.
O reforço é a base dos fenómenos complexos de aprendizagem que ocorrem no condicionamento operante ou instrumental.
Os fenómenos de aprendizagem mais básicos, como os que se realizam no condicionamento clássico, conseguem que o cão aprenda facilmente, mas trata-se de respostas simples a estímulos e não implicam uma colaboração ativa do cão, embora em muitos casos possam ser muito úteis durante o treino ou na resolução de problemas de conduta.
Mais interessantes são os fenómenos de aprendizagem ativa que se baseiam no condicionamento operante e na utilização de reforços para a realização da ação desejada.
Nos últimos anos a atenção focou-se em outros aspetos mais complexos da aprendizagem, procurando, cada vez mais, formas de aprendizagem em que o animal colabora mais.
Desta forma, o animal considera-se um sujeito na sua aprendizagem e não objeto. Considerando este ponto de vista, os fenómenos de aprendizagem complexa atraíram mais atenção e demonstraram-se mais úteis na colocação em marcha de um tipo de aprendizagem mais generalizado e duradouro.
Aprendizagem complexa e cognitiva
O conceito de aprendizagem está estritamente relacionado com o conceito de aprendizagem complexa, no qual é o animal mesmo que coloca em marcha estratégias para a sua aprendizagem (aprender a aprender ou auto motivação). Este processo não se baseia na aprendizagem estímulo-resposta, mas em estímulo processo interno-resposta. Neste sentido aprender não é um processo mecânico, mas é compreender. Para compreender é importante relacionar e comparar o novo como que já se conhece.
Segundo alguns autores a vantagem da aprendizagem cognitiva é que se reforça a si mesma e pode chegar a não necessitar de reforços externos: o reforço será simplesmente conseguir algo desejado: "se já estou motivado a cumprir a ação porque considero que tem consequências positivas para mim ou simplesmente porque me dá prazer, um reforçador pode ser utilizado para aumentar as minhas expectativas porque aumentará a minha motivação". Por outras palavras, a conduta depende da intensidade da motivação, mas também a podemos aumentar utilizando um incentivo.
De todos os modos, em muitos casos, embora pareça que o animal está a agir sem reforço, provavelmente o dono ou o treinador estão a reforçá-lo inconscientemente, com um sorriso, um olhar ou simplesmente porque faz uma atividade de que gosta.
Frustração, Stress e Treino
Outro parâmetro importante a incluir é um certo grau de frustração, importante para que o animal possa ter objetivos e aumentar a sua confiança no momento de os superar.
É importante ensinar o animal a enfrentar situações o mais variadas possível, para as saber superar, mas além de variabilidade é importante que possa determinar a generalização por parte do animal que, por exemplo, poderá aprender uma ação e utilizá-la em situações diferentes. Devemos dar-lhes as ferramentas que necessitam através de um bom treino básico e da apresentação de estímulos que levam o animal a solucionar problemas.
É certo que proteger demasiado os nossos animais só terá como consequência a criação de indivíduos débeis, demasiado dependentes e com risco de desenvolver patologias de comportamento. O melhor é estimular o animal desde os seus primeiros meses ou, seguindo alguns protocolos, semanas. O importante é definir objetivos que consiga superar uma certa dificuldade e levá-lo a tentar de novo depois de um eventual fracasso. Um certo grau de frustração será a base para uma nova tentativa com êxito.
Diferentes estudos confirmam que se o animal conhece a fonte de stress está mais preparado para o combater. A experiência passada tem um papel importante nos níveis hormonais de stress, como demonstram estudos em ratos. Nestas experiências os ratos apresentam níveis hormonais condicionados por stress e estes são menores se já experimentaram a situação negativa que ia acontecer.
A situação mais stressante para o animal é aquela sobre a qual não tem controlo, já que não consegue prever o que se vai passar.
Concluindo, "equipar" os nossos animais com um leque amplo de experiências faz com que estejam mais preparados e seguros deles mesmos em diferentes situações da sua vida e possam superá-las com níveis menores de stress.
Texto: Vera Vicinanza