O meu cachorro mordisca! Inibição de mordida

 


A inibição da mordida, não é igual em todos os indivíduos e é apreendida em diversas fases da vida do cachorro. Começa quando começa a brincar com os seus irmãos de ninhada. Entre as brincadeiras, os cachorros aprendem quanta força devem exercer enquanto brincam, de forma a não tornar a brincadeira um castigo. Durante estas brincadeiras é costume, uma mordida, sair com mais força do que o "permitido" quando em brincadeira, e quando isso acontece, normalmente o cachorro mordido, solta um ganido de dor e afasta-se do cachorro com quem brincava, assim cessando a interação.

É portanto muito importante que os cachorros permaneçam junto da mãe e, principalmente, dos irmãos de ninhada até sensivelmente às 8 semanas de idade, pois este período de interação e brincadeira vai ensinar-lhes uma inibição de mordida saudável e aceitável nos diferentes contextos sociais.

Quando os cachorros vêm para casa das suas novas famílias humanas, abandonando assim os seus irmãos para trás, continuam a usar a boca para conhecer e descobrir o seu novo mundo. A forma de interação comtinua a ser a mesma e os cachorros têm todos a tendência para mordiscar as mãos, pés e até roupa da sua família humana, quando querem brincar.

Isto, no entanto, magoa. Os seus dentes , pequeninos e afiados, arranham e causam autênticos rasgões na pele, tornando-se um martírio tentar viver com uma pequena piranha que parece que só se sente satisfeita a mordiscar qualquer mão ou pé que passe pela frente.

O que fazer?

A primeira regra para acabar com as mordidelas é nunca usar as mãos para brincar com os cães. Infelizmente, esta ainda é uma prática comum com a maioria dos donos dos cães.

"Rough housing" ou "brincar às lutas" com o nosso cachorro pode ser muito divertido se estamos com vontade e energia para escapar aos dentes afiados da nossa piranha elétrica, o que  se esquecem a maioria dos donos é que ao fazê-lo estão precisamente a ensinar os cachorros: se querem brincar comigo, usem as minhas mãos como brinquedos.


As nossas mãos não são brinquedos e quando o cachorro crescer não vai saber que magoa muito mais do que quando brinca mordiscando as mãos, porque sempre foi o que fez. Para além disso, ao brincarmos com as mãos com os nossos cachorros, estamos a ensina-los que mordiscar as mãos é permitido e, como tal, quando os cães mais tarde se excitam e se emocionam, por exemplo, quando os donos chegam a casa, podem decidir exprimir essa alegria e excitação através de pequenas e dolorosas mordidas nas mãos e braços das pessoas.

Portanto se quiser brincar com o seu cachorro, coloque brinquedos na sua mão. Peluches, cordas, bolas, qualquer coisa para além das próprias mãos, que ensine o cachorro que é apropriado brincar e mordiscar os brinquedos, mas não as mãos.


Mesmo quando usamos brinquedos nas mãos, evitando assim que o cachorro as mordisque, em ocasiões, por exemplo: calor da brincadeira, o cachorro erra o brinquedo e acerta na mão; ou num momento de maior exaltação, acaba por exprimir-se da única forma que sabe, mordiscado as mãos.

Quando ele tiver esse comportamento, é muito importante ensinar que não gostamos e não o permitimos. Mas, ao contrário do conhecimento popular, isso não se consegue com palmadas, gritos, beliscando as orelhas ou a língua do cachorro, algo extremamente violento e desnecessário.

Consegue-se interrompendo toda e qualquer interação e retirando o cachorro o que ele mais quer, a nossa atenção. Se quando mordiscar com mais força o cachorro se apercebe que a brincadeira termina e a nossa tenção cessa, ele vai aprender que mordiscar não é a forma mais eficaz de nos manter a brincar ou a interagir connosco.

Devemos ser consistentes com esta técnica, porque o cachorro precisa de perceber que mordiscar as mãos nunca é permitido. Se existe algum dia que por preguiça ou esquecimento, deixamos o cachorro mordiscar (talvez até porque o esteja a fazer com pouca força e sem magoar) estamos apenas a confundir o animal que mais tarde voltará aos velhos hábitos de mordiscar.


Se continuar a mordiscar...

Se quando paramos a brincadeira e retiramos a nossa atenção ao cachorro este continuar a mordiscar e se redirecionar para as pernas ou tentar saltar para os braços, devemos recorrer ao isolamento. Afastamo-nos do cachorro e vamos para uma outra sala ou compartimento onde ele não nos possa seguir. Esperamos alguns minutos, enquanto ele se acalma, e voltamos mais tarde como se nada fosse.

Nada disto implica zangarmo-nos com o cachorro. A mensagem de que mordiscar tem resultados negativos é muito mais forte se lhe retirarmos a atenção e, subsequentemente, a nossa presença, se este persistir.

Esta mensagem é muito mais forte do que empurrar, bater, gritar ou outras atrocidades, que podem ter apenas dois resultados: ou o cachorro tem uma personalidade forte e morde com mais força, porque pensa que estamos a entrar no jogo; ou encara a nossa punição como imprópria (afinal de contas ele estava apenas a brincar) e usa a agressão defensiva, que pode começar por ladrar ao dono quando este o repreende e acabar numa mordidela e, consequentemente, num problema grave.

Por Pontos!

  • Nunca brincar com as mãos, pés ou pelas de roupa;
  • Não permitir que o cachorro mordisque as mãos, mesmo quando o faz sem magoar;
  • Nunca colocar as nossas mãos e ou dedos dentro da boca do cachorro para ele mordiscar;
  • Devemos brincar e interagir com o cachorro sempre através de brinquedos apropriados, como peluches, cordas e bolas;
  • Quando o cachorro mordiscar as mãos, devemos parar toda e qualquer interação. Parar de brincar e retirar as mãos imediatamente do alcance do cachorro;
  • Se ele mordiscar não vamos usar punições físicas ou de outro género, estas apenas magoam o cachorro, podendo ser eficazes na altura, mas pouco úteis quando falamos na generalização. Ele pode continuar a mordiscar crianças, visitas e outras pessoas que não tenham a capacidade de infringir o mesmo tipo de punição sempre que ele mordicar. A punição também faz com que o cachorro evite brincar e interagir connosco, com medo de represálias, o que não é de todo o objetivo. O cachorro deve confiar em nós, e não temer-nos. O uso da punição também leva muitas vezes ao desenvolvimento de agressão defensiva, na qual o cachorro se sente "atacado" e responde com agressão para se defender; 

Texto: Claudia Estalisnau, Revista Cães & Companhia 166 (adaptado)